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“Carregadores nocturnos”: cabras e galinhas para “Macumba”?

Texto por: Wendell P. Machado Cordovil  Não é dos dias de hoje que práticas vistas como “feitiçaria” para causar males para outras pessoas são relacionadas com religiosidades de matrizes africanas. O termo “macumba” é muito utilizado no Brasil para expressar com negatividade as religiões e práticas de grupos descendentes de povos dos diversos países africanos. Tudo ligado a essas religiões seria então “macumba”, que gera desconfiança na possibilidade de prejuízos dos mais diversos. Uma visão discriminatória, mas que não surgiu nos dias de hoje. O termo “macumba”, que na realidade se refere a um instrumento de percussão, foi transformado em sinônimo de “feitiçaria” direcionada para a realização de alguma maldade. No senso comum, a “macumba” sempre estaria ligada com seres diabólicos e sacrifícios dos mais diversos animais. Em fontes históricas do século XIX essa mentalidade já é perceptível. Um exemplo é a notícia que teve espaço no Jornal do Commercio (RJ), 22 de julho p. 4, e no Jorna
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LIVRO DIGITAL DO IV SIMPÓSIO ONLINE DE HISTÓRIA DOS ANANINS

Agradecemos a todos e todas comunicadores que participaram do evento e que estavam ansiosos este momento. Estamos divulgando o acesso ao livro digital resultante do IV Simpósio Online de História dos Ananins. Pedimos imensas desculpas pelo atraso e pela falta de resposta a muitos e-mails. Estávamos com problemas para acessar nossas redes sociais. O atraso do livro foi, segundo a Editora, em decorrência do elevado número de trabalhos e de que muitos arquivos originais estavam com sérios problemas de formatação, impedindo até mesmo a devida adequação. No entanto, agora o livro está entregue para amplo acesso. Agradecemos a participação, paciência, e pedimos desculpas por uma demora incomum para a entrega do livro. O livro digital, organizado por Layane de Souza Santos e Francicléia Ramos Pacheco, pode ser acessado a seguir, tanto para visualizar online quanto para realizar o download. O livro está registrado com o ISBN: 978-65-88086-20-9. DOWNLOAD

AULA COMO TEXTO: PROFESSORES DE HISTÓRIA SÃO HISTORIADORES E FAZEM HISTÓRIA? POR ILMAR MATTOS

  No processo de pesquisa, escrevemos um texto escrito contando uma história. E esse trabalho também se encontra na prática do professor, porém com suas particularidades. Contar uma história coloca o professor na qualidade de autor, uma vez que seleciona leituras historiográficas e as usa para formar seu próprio texto, sua aula falada que se distancia das intenções do texto escrito lido porque tem outras motivações: suas indagações sobre a realidade que o cerca e sobre a necessidade de seus alunos, refletindo sobre que história contar e como contá-la. Isto é o que o autor Ilmar Mattos chama de "Aula como texto". Os alunos são fundamentais, só com a participação deles temos propriamente a aula como texto pois nas palavras de Ilmar Mattos "é criação individual e coletiva a um só tempo" . Por vezes, as pessoas se confundem com as funções de um professor(a) de História e um escritor(a) de História, o que acaba gerando uma inferiorização dos primeiros. Professores de His

RELAÇÕES ENTRE OS NEGROS NA ESCRAVIDÃO: "CONFLITO E COESÃO NA COMUNIDADE ESCRAVA", POR HEBE MATTOS

A autora Hebe Mattos no capítulo Conflito e coesão na comunidade escrava nos convida a compreender como certas experiências no cativeiro confrontam uma afirmação homogeneizante de harmonia coletiva nas relações dos escravizados, confirmando a nós como os escravizados teciam configurações sociais e culturais a partir de vivências muito particulares. Neste sentido, a escravidão foi marcada por alianças, conflitos, hierarquias e solidariedades entre os próprios escravizados e outros grupos, entre os quais incluíam os senhores.  O ponto de atenção e questionamento da autora se voltam para o momento em que o “escravo” Félix da Fazenda Carrapato no Rio de Janeiro se torna o assassino do feitor Anselmo. Este ato criminal não apenas revela a existência de conflitos entre sujeitos de um mesmo grupo social, mas também expressa hierarquias entre esses que por vezes de forma equivocada eram reduzidos como iguais, uma vez como discute a autora, fica evidente no esforço do curador durante o inquérit

Entrevista com a Dra. Mônica Schpun - o interesse, as fontes, e formas de olhar para pesquisar a Justa Aracy de Carvalho

Entrevista por Wendell P. Machado Cordovil Nascida no Paraná em 1908, no sábado do dia 05 de dezembro, Aracy Moebius de Carvalho era filha da alemã Sidonie Moebius de Carvalho e de Amadeus Anselmo de Carvalho, luso-brasileiro. Hoje é reconhecida pela sua atuação no Consulado do Brasil em Hamburgo (Alemanha), entre 1936 e 1942. Quando funcionária em Hamburgo, Aracy de Carvalho facilitou vistos de migração para judeus em um momento no qual a Alemanha estava sob a Ditadura Nazista e o Brasil vivia o governo ditatorial Varguista. Por sua atuação, Aracy ganhou reconhecimento do Memorial do Holocausto, Yad Vashem, em Israel e também no Museu do Holocausto de Washington, nos Estados Unidos. Recentemente Aracy de Carvalho ganhou grande destaque para o público em geral por conta da série "Angel of Hamburg", produção da parceira entre Globo e Sony. A obra, criada por Mario Teixeira e dirigida por Jayme Monjardim, foi exibida recentemente no Brasil com o título de "Passaporte para

Festas de Natal em cidades do Pará no século XIX (1856-1868)

 Texto por: Wendell P. Machado Cordovil Na noite da véspera de Natal de 1868, o Secretario de Governo da Província do Pará brindava à amizade do Major Antônio de Miranda e a boa recepção em sua casa para a comemoração do “maior facto christão”. A festa, que contou com convidados significativos na política regional, ocorreu “no importante estabelecimento rural” do Major no “Cairary” (Cairari – Pará). Os convidados foram muito bem recebidos pelo Major e sua esposa, tanto que não sabiam se admiravam mais a recepção ou a abundância, “qualidade, e delicadesa dos manjares”. Não conseguimos saber exatamente os itens que foram parte da Ceia de Natal do Major Miranda, mas podemos imaginar que com seus ilustres convidados deve ter recorrido a compra de alguns itens importados. A historiadora Sidiana de Macêdo comenta sobre a presença desses itens na região em período natalino, como “frutas” que “constituíam um artigo de luxo sendo inclusive um tipo de mimo que poderiam ser presenteados nas festa

Olimpíadas de História (2019) e Ensino de História em tempos de pandemia (2020-2021) - Entrevista com Professor Especialista Elias Santos de Brito

Entrevista realizada por Wendell P. Machado Cordovil Ananindeua é um município do Estado do Pará, região metropolitana de Belém, que por várias vezes já foi classificado como uma das cidades mais violentas do Brasil. Recentemente se calcula que políticas públicas reduziram significativamente os índices de violência da região , mas ainda há muito o que se fazer. A violência existente no município, e no Estado do Pará, as vezes toma a Escola como palco. Como no caso do Professor de Língua Portuguesa que sofreu um ataque com faca de um aluno em uma Escola pública municipal, no ano de 2019. Ser Professor nas Escolas brasileiras é de grande dificuldade, em regiões como Ananindeua essas dificuldades podem se tornar ainda mais evidentes. Como ensinar História dentro desse cenário? Com a pandemia de Covid-19 os problemas para a Educação no Brasil aumentaram muito. Em regiões como Ananindeua, que possuem grande população em situação de extrema pobreza, falta de saneamento básico e altos índices